Você já ouviu falar em alguém que comesse borracha? Eu já, e fiquei bastante admirado com os gostos e propósitos diferentes pelos quais se come borracha.
Soube da façanha desempenhada por duas crianças no dia da reunião da escola “Gente Pequena”. Luanda, minha filha, estuda lá, e eu sou professor do coral infantil. Não se admire da minha observação, sempre acho que ensinando estamos também aprendendo com as crianças.
A coordenadora pedagógica contou com palavras irônicas o primeiro caso:
A professora perguntou a uma aluna por sua borracha, e a menina respondeu que a havia comido. Um colega de sala confirmou não só que ela havia realmente comido a borracha, mas que seu costume era de comer também o sapato e os lápis.
A professora ficou chocada e perguntou novamente por que ela comia essas coisas. Então a menina respondeu com todas as palavras e em claro português:
— Como borracha para ver se conheço uma lombriga ou uma solitária, pois a professora de Ciências sempre fala nisso, e eu queria muito vê-las de verdade, real e em cores.
A segunda menina não estuda na mesma escola, mas em uma dessas escolas da prefeitura ou do governo do estado. Um dia, quando errou a lição, pediu à professora a borracha emprestada. A professora disse:
— Ontem mesmo te dei uma borracha nova.
— Realmente, tia, a senhora me deu, mas como eu não tinha o que comer na minha casa, comi a borracha.
Dois propósitos diferentes para comer borracha, e nem tudo que se acha certo é tão errado, e nem tudo que se acha errado é tão certo, ou vício e verso.
Manu Kelé
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